segunda-feira, 9 de julho de 2012

Esfigmomanômetro

Hoje mais cedo eu passei na porta da sua casa e quase subi. Quase subi pra 13 ponto qualquer coisa, eu, doze por oito, quase sempre tão estável - de pressão tão previsível, perco a mão quando passo na sua calçada. Quase nada mudou por aí. A prefeitura colocou uma ou duas placas prometendo qualquer coisa que não pude ler - minhas lentes continuam guardadas, você sabe que às vezes eu prefiro mesmo não ver nada. Mas, olha garota, ainda sinto o cheiro de tudo. Ai ai, aquela padaria tem o mesmo cheiro de tarde quente, fugida. Ainda posso sentir seu perfume por aquelas esquinas. Se me concentro, sinto ainda o meu cheiro no seu pescoço, num perfume novo, nem floral nem madeira; nuca. Boca. O cheiro dessa rua ainda é o mesmo que pingava no meu colo, e a pressão era muito mais que doze por oito, muito mais que 13, muito mais que só sangue no coração, essa pressão que a gente tinha era física, barômetro, tempestade de vento, garota.

Aí você vê: eu, que já fui ciclone com você, passo na sua calçada e sinto frio. E sinto cheiros que já foram. E vejo a padaria igual. E quase pego o elevador e subo até o 20. E tanta coisa mudou e eu aqui escrevendo pra você. Olha, garota, eu devo ter enlouquecido, mas o aparelhinho aqui diz que eu vou bem: 12-por-oito. Mas como é fria essa constância.

Será que uma hipertensão tem seu calor?

Do Caju