segunda-feira, 14 de maio de 2012

Joga o lixo fora

Morena, tenho acompanhado as mudas que você plantou nesse jardim. Hoje amanheceu um dia frio, daqueles que pedem dois ou mais. Eu era um. Vim ver a pimenta pra tentar arder um tanto, mas elas ainda estão pequenas. Não pude deixar de notar que você esquece de jogar o lixo fora. Toda a vez que venho olhar as mudas vejo moscas no canto da casa, rodeando seus mistérios. Essa semana eu até fiz esse trabalho, mas seu saco já está cheio de novo. Joga fora o que tiver de lixo, morena. Do jeito que seu quintal está, ninguém arde, ninguém pimenta, nada muda. Nâo dá pra florescer assim; joga o lixo fora.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Estourado

Tatá, estourei. Agora é sério! O cartão e a paciência. E não vem pra cima de mim com essa de gostosona não! Aqui se paga, gatinha. Da próxima vez que fizer conta, não conte comigo. Pede pra algum santo te ajudar, porque os preto-véio já tão tudo com a titia aqui. Atenciosamente, Tia Lelê.

terça-feira, 8 de maio de 2012

Super-cola

Rômulo,  a super-cola está na na geladeira, do lado da cebola. Vê se não esquece de consertar a droga do controle remoto, já que não quer comprar um novo. Sabe como eu fico sem controle! Daqui a pouco tenho que voltar a tomar aqueles ansiolíticos de novo. Ah, e aproveita e veja se consegue colar também essa droga de boca. Você, nem o canal da TV mudam. Tá tudo quebrado nessa porra!
Aproveita também e descasca a cebola. Cansei de chorar.
Da sua querida Helena.

terça-feira, 1 de maio de 2012

Reconhecendo desconhecidos

Trouxe espumante e cerejas. Corri pelas escadas, respirei difícil na pressa de chegar e ver sua silhueta à meia luz, com incensos pela casa e um bom perfume no pescoço. Abri a porta com as sacolas, buscando uma desculpa qualquer pra fazer festa. Qualquer pequena vitória ao longo da semana - a queda do dólar, um novo CD do B.B. King, um almoço de uma hora e mais meia, qualquer pequena vitória pra fazer festa com você.
Te esperei no sofá até o fim da garrafa. Derrubei os caroços de cereja pela sala, chutei puto o balde de gelo que você me deu. No caminho para o quarto, olhei bem as marcas de dedos pelos rodapés. Na mesa de canto, aquele recado seu. Reli, ainda descrente. As mãos que sobem pelas paredes também brincam despedidas, voltam, fazem charme, sempre foi assim. Hoje não. Não mais remeto respostas, escrevo no verso da folha, mais por mim do que por você: minha pequena vitória é te deixar ir, mulher.
Talvez o próximo inquilino encontre esse papel e faça um poema - eu sempre quis te escrever um poema. Talvez ele nem leia. Talvez ele só saiba que foi bom quando limpar seu cheiro das paredes.


Ass: O antigo morador