Trouxe espumante e cerejas. Corri pelas escadas, respirei difícil na pressa de chegar e ver sua silhueta à meia luz, com incensos pela casa e um bom perfume no pescoço. Abri a porta com as sacolas, buscando uma desculpa qualquer pra fazer festa. Qualquer pequena vitória ao longo da semana - a queda do dólar, um novo CD do B.B. King, um almoço de uma hora e mais meia, qualquer pequena vitória pra fazer festa com você.
Te esperei no sofá até o fim da garrafa. Derrubei os caroços de cereja pela sala, chutei puto o balde de gelo que você me deu. No caminho para o quarto, olhei bem as marcas de dedos pelos rodapés. Na mesa de canto, aquele recado seu.
Reli, ainda descrente. As mãos que sobem pelas paredes também brincam despedidas, voltam, fazem charme, sempre foi assim. Hoje não. Não mais remeto respostas, escrevo no verso da folha, mais por mim do que por você: minha pequena vitória é te deixar ir, mulher.
Talvez o próximo inquilino encontre esse papel e faça um poema - eu sempre quis te escrever um poema. Talvez ele nem leia. Talvez ele só saiba que foi bom quando limpar seu cheiro das paredes.
Ass: O antigo morador
pulei de uma esquina a outra
ResponderExcluirtentando te achar
adivinhar ou mesmo
tatear sua nudez há tempo sabida
mas agora só suposta.
outra vez ouvi vozes
que não eram suas.
vinham das carrancas das naus sem rumo
vagando naquele rio que passa do meu lado esquerdo toda noite
e se perde, serpenteando a terra.
também ele tentando achar alguma coisa
que não seja o obvio do leito dos rios.
o óbvio de navios que se despedaçam
sem despedida
sem aviso.
Ass. O Avesso do avesso
... e encontrar tantas delícias no avesso. Do avesso.
ResponderExcluirDo avesso.
Do
avesso.