terça-feira, 17 de abril de 2012

Pro-fundo

Mãe,

Revirando gavetas, encontrei um antigo diário seu. Pus o olho na fechadura, com todo o respeito que tenho às dilacerações escritas - em algum tempo, tão pesadas que só cabem nos fundos das gavetas. Esses fundos - como admiro! - tão bem revestidos de poeira e tão cautelosamente calculados, que não só sustentam o peso da memória, mas também espantam os narizes intrusos.
Não ia abrir, mas folhas caíram, meia dúzia de frases me escaparam, e então percebi que era um diário de gravidez. "Já sinto a vida dentro de mim", você escreveu, aos 5 meses de gestação.
Achei bonito te ver. O fundo da gaveta mostra mais do que a porta aberta.

T.

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